Turquia. Mosaico romano bem preservado do século III com 50 metros quadrados

Uma equipa de arqueólogos da Diretoria do Museu Iznik colocou a descoberto um pavimento em mosaico, com 1800 anos, bem preservado de época romana, na região de Bursa, perto do lago Iznik.

Carla Quirino - RTP /
Diretoria do Museu Iznik

Os arqueólogos acreditam que o mosaico adornava um salão dentro de um edifício público ou de um luxuoso complexo residencial do século III d.C., ou ainda de uma rica vila romana ou até mesmo de um complexo de banho. Poderá também marcar a entrada de um palácio associado à antiga Niceia, um importante centro urbano na Ásia Menor, anexado pelo poder romano no ano 72 a.C.. 

A decoração apresenta uma combinação de padrões geométricos, motivos tridimensionais e imagens figurativas, como representações de uma mulher a segurar uma cesta de frutas e ainda diversos símbolos mitológicos.

De acordo com os arqueólogos estes motivos estão associados à fertilidade, abundância e vida eterna na arte romana.

O pavimento foi detectado pela primeira vez durante a construção de um esgoto em 2014, onde, em também foram encontradas estruturas de uma basílica (um edifício da igreja cristã primitiva) perto do Lago Iznik. 

Na altura, foi verificado que o pavimento se estendia por baixo de uma estrada e de uma propriedade adjacente. Após ter sido resolvido o processo de expropriação do terreno, a escavação avançou permitindo agora dar a conhecer uma maior parcela do piso, declararam as autoridades. 

A cronologia foi determinada através das características estilísticas do mosaico, cores e motivos, bem como cerâmicas e moedas recuperadas no local.

O arqueólogo, Yusuf Kahveci, explicou que foram encontradas várias estruturas como fragmentos das "paredes principais do edifício sobre o mosaico que já tinham sido cobertas com pinturas de parede, e os pisos eram pavimentados com mármore".

No entanto, "tanto os frescos como os pavimentos de mármore foram danificados ou removidos ao longo do tempo mas grande parte do piso de mosaico sobreviveu intacto. 

Na seção preservada de 50 metros quadrados dentro da área expropriada, há três painéis diferentes cercados por uma borda decorada com romãs e folhas de hera”, acrescentou Kahveci.
Deusa da abundância
Kahveci descreve o mosaico explicando que "o painel de esquerda apresenta uma deusa da abundância com figuras mitológicas em ambos os ombros. Há inscrições com abreviaturas acima delas, que serão melhor compreendidas após a análise epigráfica".

Deusa da abundância | Diretoria do Museu Iznik

“Esta é uma descoberta muito recente que tem apenas algumas semanas. Os estudos científicos ainda não foram aprodundados mas podemos dizer que esta figura contém uma cesta de frutas, correspondendo a plantas cultivadas em Iznik durante esse período. Os motivos geométricos e tridimensionais circundantes mostram artesanato magistral”, acrescentou
Lago Askania
O sítio foi recentemente visitado pelo Papa Leo XIV, tendo a agenda papal  impulsionado os trabalhos arqueológicos. Estas construções - o mosaico e a basílica - indiciam que teriam uma forte ligação com o lago Iznik.

Kahveci explica que no painel do meio do pavimento"podemos ler o nome Askania ao lado da figura central. Este era o nome precisamente do Lago Iznik, na era romana. Entendemos que o mosaico retrata o lago”.

A figura está "associada à água, com cabelos renderizados com pormenores semelhantes a algas, uma coroa feita de pinças de caranguejo e ondas ilustradas ao redor do pescoço. Por outras palavras, o Lago Iznik é personificado como uma mulher antiga”, acrescentou.
Figura mulher com ornamentos de cabelo com pinças de caranguejo | Diretoria do Museu Iznik

Kahveci observou ainda que os motivos trançados circundantes usam três ou quatro tons de cada cor. O arqueólogo sublinha que a complexa rede de cores e tonalidades das pequenas pedras cúbicas (tesselas) que compôem o mosaico exaltam o trabalho dos artesãos da época.

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